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Trilha da Ferrovia do Vinho e seus trilhos e túneis abandonados

Bento Gonçalves é conhecida nacionalmente pelas belas vinícolas e ótimos vinhos, mas o que poucos sabem, é que ela esconde uma das trilhas mais incríveis da região: a Trilha da Ferrovia do Vinho.

Não, não estou falando da Maria Fumaça, linha turística que liga Bento Gonçalves a Carlos Barbosa. A protagonista da vez é a Ferrovia do Vinho, desativada em 1992. Após o abandono, a natureza se encarregou de deixar ela ainda mais bela.

A Ferrovia do Vinho tem ligação com os trilhos do Tronco Principal Sul (TPS) e há diversas opções de percursos entre os trilhos, com diferentes distâncias, altimetria e dificuldades. Mas, antes de falar da trilha, vou explicar um pouco da região e da ferrovia para você definir a melhor opção de trilha para você.

A Ferrovia do Vinho

A Ferrovia do Vinho foi construída na década de 1970 para o escoamento da produção de Bento Gonçalves, ligando a cidade até a Estação Jaboticaba, localizada no TPS. Para vencer o desnível entre as estações de Bento Gonçalves e Jaboticaba, os trilhos da Ferrovia do Vinho formam um laço ao redor do Morro Scalco, conhecido também como morro da Jaboticaba, com 579m de altimetria. A Ferrovia do Vinho, em espiral, conta diversos viadutos e túneis escavados na rocha, necessários para vencer a altimetria.

Este trecho foi desativado em 1992, quando o trajeto turístico começou a operar somente entre Bento Gonçalves e Carlos Barbosa. Na época, a Ferrovia do Vinho, seus trilhos, túneis e viadutos, foram abandonados. O mesmo ocorreu com a Estação Jaboticaba. Nos últimos anos, os trilhos começaram a ser procurados pelos aventureiros e assim nasceu a Trilha da Ferrovia do Vinho.

Como falei anteriormente, há diferentes formas de conhecer a ferrovia, pode percorrer somente ela ou parte dela e parte do TPS no mesmo dia. O caminho detalhado a seguir envolve as duas ferrovias, com um formato circular e de nível moderado. Ele é ideal para quem deseja experimentar um pouco dos trilhos abandonados.

Trilha Ferrovia do Vinho + TPS

Este percurso tem cerca de 15 km e pouca altimetria, é uma trilha leve, mas um pouco longa. Você pode deixar o carro ao lado da Ponte Ernesto Dornelles, conhecida como Ponte dos Arcos, a qual liga as cidades de Bento Gonçalves e Veranópolis. Logo verá uma estrada de terra ao lado direito da ponte, você irá entrar nesta estrada e em menos de 100 metros verá os trilhos ao seu lado direito.

Ponte Ernesto Dornelles, início da trilha na estrada da direita.

Esses trilhos são do Tronco Principal Sul e estão ativos até hoje, ligando as cidades de Roca Sales-Vacaria. O trem costuma passar por estes trilhos uma vez ao dia, mas sem horário definido.

Trilhos do Tronco Principal Sul (TPS).

Ao entrar na trilha, você encontrará um túnel na sua direita para começar a ter um gostinho da ferrovia. Porém, você não deve atravessar este túnel, seguirá no sentido contrário, paralelamente a estrada de terra e ao Rio das Antas. Cerca de 1 quilômetro depois, quando a estrada de terra cruzar os trilhos, você deve sair dos trilhos e seguir a estrada. Neste momento você deixará os trilhos do TPS para encontrar os trilhos da Ferrovia do Vinho.

Ponto de saída dos trilhos do TPS e entrada na estrada, seguindo pela direita.

Ande cerca de 1 quilômetro pela estrada de terra, boa parte subindo morro. Irá encontrar apenas uma encruzilhada, a qual deve seguir pela direita. Na primeira curva, saia da estrada de terra e entre na Trilha da Ferrovia do Vinho.

Ferrovia abandonada

Os trilhos cruzam a estrada de terra, mas como estão abandonados já tiveram boa parte deles cobertos pela terra e pela natureza, é necessário atenção nesta curva para localizar os trilhos. Você deve entrar na trilha que tem a sua direita e seguir os trilhos. Inicialmente você estará no sentido contrário ao percurso que fez nos trilhos do TPS, como se estivesse retornando, porém um pouco acima.

Depois de localizar os trilhos abandonados e sair da estrada de terra, não tem mais erro, basta seguir os trilhos e curtir a vista. Após 1 quilômetro andando nos trilhos da Ferrovia do Vinho, você vai cruzar o primeiro túnel, o Túnel dos Morcegos, com 514 metros. Ao sair do túnel, estará do outro lado do Morro Scalco. Outro ponto interessante que você encontrará neste trecho é uma árvore que cresceu entre os trilhos.

Por ser uma ferrovia abandonada, há diversos pontos alagados e deslizamentos de terra e pedras sobre os trilhos. Mas, é possível cruzar esses pontos sem grandes dificuldades.

Túnel em Y

Logo após o quilômetro 7, você encontrará o segundo túnel desta trilha. É um túnel em Y, com 525 metros, e dentro dele ocorre a ligação da Ferrovia do Vinho com o Tronco Principal Sul (TPS). Na verdade, o túnel em Y é o Túnel Corujão, local escolhido pelas corujas para fazerem seus abrigos durante o dia. Quando foi inaugurado, com a presença do Ministro da Guerra, ocorreu um desmoronamento e várias corujas saíram voando, assustando os presentes.

Dentro do túnel termina a Ferrovia do Vinho [ou começa] e você estará novamente nos trilhos do TPS. Ou seja, basta seguir o sentido trilhos, optando pela saída em frente, para retornar ao início da trilha.

Entretanto, recomendo que faça um pequeno “desvio” dentro do túnel, para conhecer o viaduto e a Hidrelétrica Monte Claro. Para isso, dentro do túnel em Y, deve optar pelo caminho contrário, seguindo os trilhos do TPS pela direita e verá a outra saída do túnel. Assim, na saída do túnel vai encontrar o viaduto e visualizar a hidrelétrica. Ao cruzar o viaduto e o Rio das Antas, os trilhos seguem para Vacaria e Lages, por isso, após apreciar a vista, você deve retornar para dentro do túnel e seguir no outro sentido.

Viaduto ao lado da Usina Monte Claro.

Ao sair do túnel pelo outro lado, você encontrará vagões abandonados, um verdadeiro Cemitério de Vagões. Por fim, você também passará pela Estação Jaboticaba, também desativada, e deverá seguir pelos trilhos mais 6 quilômetros até o ponto inicial da trilha. Saiba que é possível ir de carro até a Estação Jaboticaba, caso opte por outro trajeto da trilha.

Cemitério de Vagões, logo a frente estará a Estação Jaboticaba, ambos pontos são do TPS.

Sobre a Trilha:

Dificuldade: média, por se tratar de uma trilha longa.

Tempo: 3 a 5 horas.

Comentário: trilha tranquila, com uma leve altimetria e um pouco longa. É uma trilha que traz uma experiência diferente, até para quem já fez trilha sobre trilhos. Há pontos com desmoronamento de terra e pedras nos trilhos e diversos pontos alagados.

Equipamento: Tênis confortável, água, lanterna para cruzar os túneis e um lanche, afinal é uma trilha longa e você pode ficar com fome! 🙂

Wickiloc view: Esta trilha também está no Wikiloc e você pode seguir o tracking dela por lá. Só clicar aqui.

Ao fazer trilhas, lembre-se:

  • Avise sempre um conhecido onde estará e o horário que pretende retornar;
  • Não arrisque a vida;
  • Não deixe seu lixo na natureza, traga para descartar no local correto;
  • Deixe o local melhor do que o encontrou.

2 thoughts on “Trilha da Ferrovia do Vinho e seus trilhos e túneis abandonados

  • CARLOS ALBERTO GOMES SCHMITZ

    É um absurdo em um País Continental, como o Brasil, abandonar desta suas ferrovias.
    Esta ferrovia abandonada tem acesso a Carlos Barbosa, para um lado esta ferrovia se direcionava à FERROUPILHA e CAXIAS DO SUL e descendo até MONTENEGRO ela tinha dois acessos à PORTO ALEGRE, via o Distrito de General Luz e um tempo anterior a desativação oficial desta ( 1994 ), na Cidade de MONTENEGRO, via a Cidade de PORTÃO chegava à SÃO LEOPOLDO, CANOAS e portanto ao centro de PORTO ALEGRE.
    Uma Cidade do porte de CAXIAS DO SUL, não exigir um TREM INTERCIDADES até PORTO ALEGRE, com parada do AEROPORTO SALGADO FILHO, nada justifica a desativação destas FERROVIAS.

    Resposta

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